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Foto do escritorLeonardo Brant

LIXO OU RESÍDUO? | Ou como transformar a cultura do lixo?

Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre a questão dos resíduos sólidos no Brasil, realizadas no âmbito do documentário DESCARTE. As reportagens foram apuradas por Fernanda Carpegiani, com a coordenação editorial de Sérgio Rizzo, que também assina o roteiro do filme.

O objetivo é fornecer informações aos interessados em compreender os diversos aspectos da presença do lixo em nossa sociedade, despertar a consciência ambiental e fomentar debates nas diversas instâncias sociais capazes de fazer avançar políticas e ações de impacto. Na educação básica, por exemplo. Entre as famílias de todas as classes sociais. E também em diferentes ambientes de aprendizagem, como escolas, universidades, governos, ambiente corporativo, comunidades e organizações sociais.


Além dessas reportagens, criamos uma série de conteúdos como um podcast, debates, minidocs e um caderno de anotações sobre o filme, que se configura como um projeto educativo, buscando tornar o assunto ainda mais acessível e propositivo na vida das pessoas.


Organizamos o material em sete temas: Lixo ou Resíduo?, Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS, Lixão, Catadores, Logística Reversa, Economia Circular e Lixo Zero. Nossa intenção é expandir a experiência do documentário para outras plataformas e formatos, sempre com conteúdos e abordagens complementares, de forma a tornar a busca pelo conhecimento mais envolvente.


Começamos com o tema LIXO OU RESÍDUO?, que faz uma discussão filosófica sobre o lixo em nossa sociedade. Nesta primeira reportagem, optamos por trazer o tema da Educação Ambiental e sua importância quando o desafio é promover uma mudança cultural na gestão dos resíduos.

DESCARTE é essencialmente um projeto educativo. A articulação eficiente para o enfrentamento do problema representado pelo lixo está relacionada a uma urgência contemporânea, que deveria ser prioridade na agenda de toda a sociedade: a educação ambiental, conceito que começou a ser discutido de forma mais estruturada há aproximadamente 50 anos. O principal estímulo para a inclusão do tema na pauta política e econômica internacional teve início com a Conferência das Nações sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia), em 1972. A partir das propostas levantadas nesse evento, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) promoveu, em 1975, o Encontro Internacional de Educação Ambiental, em Belgrado (então Iugoslávia, atual Sérvia).


Desse encontro resultou a Carta de Belgrado, primeiro documento global sobre preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Em seguida, foi criado o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), que tem como princípio a ideia de que a educação ambiental deve ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais.


No Brasil, um dos marcos na área é a Lei 9.795 / 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental e diz o seguinte:


“Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.


Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.”



"Imagine se você precisasse enterrar seus resíduos na própria casa"


A educação ambiental sustenta iniciativas em prol da transformação da cultura do lixo, uma vez que a adoção ou não de hábitos mais conscientes está relacionada ao comportamento de todos os cidadãos. "A preservação ambiental depende de estruturação de projetos, seja por instituições, governo ou empresas", explica Ana Maria Domingues Luz, presidente do Instituto GEA e especialista em educação ambiental e economia sustentável. "Mas, além do capital, é preciso na mesma medida conscientizar as pessoas para que elas participem e ajam de acordo com os projetos."

Com 20 anos de atuação na área, Ana Maria conta que as instituições que investem em projetos de manejo de resíduos e preservação do meio ambiente ainda não levam em consideração a sensibilização e a educação ambiental. E esse é justamente o foco do Instituto GEA ao promover cursos, oficinas, palestras e consultorias. Entre os projetos realizados, estão cursos sobre sustentabilidade para professores e capacitação de catadores para trabalhar com lixo eletrônico.


Segundo a especialista, a educação ambiental precisa focar em questões concretas, que fazem parte do cotidiano das pessoas. "Então a gente fala, por exemplo: imagine se a Prefeitura não fizesse coleta de lixo e você precisasse enterrar os seus resíduos no seu próprio terreno, na sua casa. Aí as pessoas têm um clique, e só assim elas podem mudar sua atitude".


A transformação do comportamento envolve também a forma como as pessoas consomem. "A questão dos resíduos está muito ligada ao consumo, porque consumir não é só comprar", diz Larissa Kuroki, coordenadora de Conteúdos do Instituto Akatu, uma organização não-governamental que estimula o consumo consciente com ações de educação e comunicação. "Na verdade, são três etapas: compra, uso e descarte. O consumo consciente aborda todas essas etapas, e por isso é importante, no momento da compra, pensar para onde vai o produto depois que ele não tiver mais utilidade."



Uma seleção de iniciativas para se informar e mudar a cultura do lixo no Brasil


Abes

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambaiental


Casa Causa

Hub de soluções onde empreendedores de impacto se encontram com pessoas e empresas que entenderam o momento do mundo e querem atuar de foram diferente


Cataki

Aplicativo que conecta catadores e catadores de materiais recicláveis a pessoas que querem descartar diversos tipos de resíduos.


Eccaplan

Empresa que desenvolve estratégias, produtos e serviços que viabilizam a geração de valor através de práticas socioambientais inovadoras. A empresa mantém um site com conteúdos sobre sustentabilidade que abordam a questão dos resíduos sólidos.


Educambiental

Banco de práticas de educação ambiental espalhadas pelo Brasil, criado e alimentado pelo Ministério do Meio Ambiente.


Edukatu

Rede de aprendizagem do Instituto Akatu que promove capacitações para professores e alunos e oferece uma plataforma digital de conteúdos multimídia sobre consumo consciente e sustentabilidade.


Ideia Circular

Iniciativa de educação e comunicação sobre design circular e economia circular no Brasil.


Instituto Estre

Braço social da empresa Estre, que atua com educação ambiental para a questão dos resíduos sólidos.


Instituto Limpa Brasil

Organização sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a conscientização da população brasileira para preservação do meio ambiente e da vida por meio da realização de projetos integrados que envolvem a sociedade civil, o setor privado e os órgãos do governo.


Instituto Lixo Zero

Organização da sociedade civil autônoma, sem fins lucrativos pioneira na disseminação do conceito Lixo Zero no Brasil.


Instituto Pólis

Organização Social voltada para a defesa do Direito à Cidade.


Lixiki

Iniciativa de Ana Borba voltada para educação ambiental e design ecológico.


Menos 1 Lixo

Movimento e negócio de impacto que promove a educação ambiental com produção de conteúdo, campanhas, cursos e também venda de copos reutilizáveis que substituem o uso de copos de plástico descartáveis.


Molécoola

Programa de fidelidade ambiental que permite trocar resíduos recicláveis por pontos, que podem ser resgatados na forma de produtos e benefícios, em São Paulo.


Morada da Floresta

Negócio social que oferece soluções socioambientais, cursos, produtos, serviços e projetos para incentivar práticas sustentáveis cotidianas.


Pimp My Carroça

Movimento que busca tirar os catadores da invisibilidade por meio da arte.


Portal Ecycle

Plataforma digital de conteúdos e soluções em consumo sustentável, que inclui um sistema de busca de postos de descarte de mais de 170 tipos de resíduos.


Recicleiros

Organização que assessora as prefeituras na implementação da coleta seletiva inteligente e oferece ao setor empresarial resultados certificados de logística reversa de embalagens pós-consumo com responsabilidade socioambiental.


Roda Ambiental

Empresa social de consultoria ambiental e engenharia verde.


So+ma

Programa de fidelidade voltado para pessoas de baixa renda, em que os pontos acumulados pela troca de resíduos podem ser trocados por cursos, exames, alimentação básica, experiências e descontos em supermercado, entre outros.


Transições Ecológicas

Perfil de Instagram de Livia Humaire, uma das entrevistadas do file DESCARTE.


Verdes Marias

Perfil de Instagram com exemplos de microrrevoluções sustentáveis de Mariana de Moraes, uma das entrevistadas do file DESCARTE.



Ações internacionais de educação ambiental


Programa de Ação Global de Educação para o Desenvolvimento Sustentável

Iniciativa da UNESCO que reúne informações sobre políticas desenvolvidas por países-membros, capacitação de educadores e monitores, mobilização jovem e soluções para acelerar a sustentabilidade no planeta.


Ellen MacArthur Foundation

Fundação voltada para a promoção da economia circular.


Green Office Movement

Organização internacional que reúne estudantes, professores e gestores de diversos países com o objetivo de desenvolver modelos de ações e trocar informações sobre elas. Os casos reunidos no site abrangem relatos de Alemanha, Bélgica, Holanda e Reino Unido, entre outros países.


Project Green Schools (EUA)

Programa voltado ao "desenvolvimento da próxima geração de líderes ambientais", conectando escolas, professores e estudantes, e oferecendo material de referência para as mais diversas atividades, incluindo "waste management" (gestão de resíduos).


 

* Com a colaboração de Fernanda Carpegiani. Coordenação editorial e edição de Sérgio Rizzo.


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